Gentes e costumes



As pessoas

Ainda não perdi esta minha visão, um pouco romântica talvez, de que as pessoas na sua maioria são o que temos de mais rico. Bem sei que há muita gente falsa, mesquinha, enganadora mas, esses são para filtrar e tirar o que de melhor vemos e conhecemos. A caminho de Lubango encontrei muita gente e destaco a minha velhinha simpática com quem tirei esta foto em Calunga e, estando na Província de Huíla, estaria claro que encontraria mulheres da tribo Mumuila. É destas que vos quero falar. 
Pouco ou nada se encontra (além de fotografias) na internet acerca delas. São nómadas, criadores de gado, que é a uma das suas principais fontes de sustento. No seu seio são polígamos (o homem escolhe quantas mulheres quer ter) e o que mais as destaca são os ornamentos que trazem ao pescoço (quantos mais colares, mais importantes e ricas são), as roupas coloridas e os seios descobertos. Normalmente é a mulher mais velha que administra os bens que é quantificado, entre outras coisas pelas cabeças de gado que possuem. Esta que vêm na foto comigo foi bastante simpática ao me deixar tirar uma foto (por 200KZ, claro) não porque tivesse algum problema de maior em ser fotografada mas porque depois “me levas lá para longe contigo”, disse-me ela em Umbundo que um amigo me fez o favor de traduzir. A tradição dos colares está, contudo a cair em desuso pois as raparigas mais novas, já não estão para andar com tudo aquilo ao pescoço que, nunca é retirado, nem para dormir. A maneira como se enfeitam ainda é praticada as cores vibrantes na pouca roupa que usam, os ornamentos nos braços e pernas. O cabelo por norma nunca vê água. Elas utilizam uma mistura de barros e pastas feitas daquilo que o gado lhes fornece (prefiro não saber qual é a fonte) e cada uma tem o cabelo com a ornamentação que prefere ou que acha mais apelativa aos rapazes.

Existe algum preconceito quanto a elas. Os evangelistas não perdem oportunidade de as tentar converter daí serem considerados grupos sem evangelho e mesmo a maioria dos Angolanos não os aceita da melhor maneira. Quanto a mim, preconceito a mais. 

Eu acho-as bem pitorescas e originais. 
“Vive la diference”







Um comité de boas vindas em Equimina

A igreja



Foto espetacular
Continuo na minha, quanto mais humildes as pessoas são, mais espontâneas e hospitaleiras. Aqui nesta visita a Equimina fomos recebidos por todos com um sorriso e tivemos até uma sessão fotográfica com a criançada que, como podem ver, não se fazem rogados à câmara. De resto foram todos muito simpáticos e só tive pena de não ter ido conhecer o Soba da aldeia que, da próxima vez que lá for, terei de conhecer. Dizem que é muito simpático e low profile.  






Humildade é uma qualidade só do pobre?
Porque será, que aqueles que menos posses têm, são por norma aqueles que mais dão e mais felizes. Posso atravessar o musseque mais pobre ou visitar a aldeia mais escondida que, sou recebido com um sorriso e, na esmagadora maioria dos casos, oferecem o que têm e fazem-me sentir bem-vindo. Será porquê? Ignorância? Não sabem mais? Ou foram educados assim?
Normalmente as pessoas mais pobres são mais humildes por que a arrogância do dinheiro, ainda não lhes subiu à cabeça. O rico ou aquele que pensa ser rico, por norma, tem tanta preocupação em guardar e manter os bens que tem que, na sua grande maioria, esquecem de sorrir, receber bem, de desfrutar das coisas simples que a vida nos dá. A diferença, talvez seja que, o pobre ambiciona ser rico. Planeia ao pormenor o que faria se tivesse dinheiro e, infelizmente, mantém a humildade apenas enquanto não o consegue. O rico já não faz o contrário e o que planeia, é ter mais e mais. Mas será que deveria ser assim, porque deverei eu esperar que o pobre me receba bem e não o exigir a quem tem mais possibilidade de o fazer? Porque será que cada vez mais se pede esforços a quem não pode dar mais e, aqueles que mais têm, ainda arranjam formas de dar menos?

Apesar disso, mesmo não tendo muito para dar, vou sendo recebido com alegria nas aldeias onde passo e, se bato à porta de quem tem mais, pergunta-me: “o que quer daqui?”
É por isso que, quando vou passear aqui, a minha inclinação seja, por praias com porquinhos, aldeias típicas, pelo campo e de preferência bem fora da cidade. Aí, tenho a certeza que se tiver fome ou sede me darão algo de beber ou comer e se tiver falta de um sorriso, é só escolher.

Em Benguela


Que me perdoem os meus pais e restante família, mas aqui, em Benguela, tenho também uma enorme “família”. É que aqui ainda se pratica bastante, o respeito aos mais velhos. E isso é tangível em todo lado e, perdoem-me os meus familiares, já sou filho, pai, irmão, tio e sobrinho de muita gente. É que aqui, é um sinal de respeito tratarem as pessoas por mãe, pai, etc. Acho bem fixe e, como em Roma sê romano, já me habituei a esta proximidade. Chamo mano a malta da minha idade, chamo mãe quando vou por exemplo comprar fruta no mercado às quitandeiras mais velhas e elas tratam-me por filho. No outro dia fui abordado na rua por um velhinho muito meigo e cordial que me pediu: “meu filho o pai tem muita dificuldade por ser cego, não podes ajudar o pai com alguma coisa?” Claro que ajudei e ganhei, de certeza um amigo. Por isso é que eu digo que família aqui, não me falta.
Mesmo os miúdos que andam pela rua a engraxar sapatos ou a pedir para limpar o carro, são educados, e se recusamos (nem sempre posso aceder aos pedidos deles), são cordiais e respeitam a decisão. Este pessoal mais novo, espero que andem também na escola. Apesar disso, e alguns decerto são bem pobres e sem possibilidades quase nenhumas, arranjam estas maneiras de ganhar algum dinheirinho e, no fundo, fazem pela vida. Gostaria de os ver a todos na escola ou na praia a brincar, em vez de andarem na rua, mas o que é certo é que, trabalham à sua maneira para ganhar mais algum dinheiro. Preferível isso que optarem pela delinquência como se vê muitas vezes acontecer em Portugal, onde a maior parte não tem metade das dificuldades que estes têm. Aqui, vejo que a delinquência juvenil não é opção e apesar de humildes e sem posses, são respeitadores e educados e se querem dinheirinho para comer e ajudar em casa, têm de ganhá-lo. Espero que no futuro, existam cada vez menos miúdos com necessidade de andar na rua a engraxar, mas para já, saúdo o espírito empreendedor e positivo que eles têm.

Os velhos e, porque não, bons costumes aqui, ainda prevalecem bastante. E, espero eu, que Angola cresça como tem vindo a crescer mas nunca percam estas cordialidades e esta mentalidade de respeito aos mais velhos que, só fica bem, quanto a mim. Mesmo até noutras coisas banais como comprar fruta, por exemplo, aqui se notam velhos costumes. No outro dia fui ter com a mãe do costume e pedi Mangas, ela, virou-se para mim e disse-me que não está na época delas, filho. Que estranho ouvir isto nos dias que correm. Mas, digo-vos com toda a sinceridade, que quando chegar a época delas, me vão saber bem melhor, vão estar com um preço justo e aposto com vocês, uma delícia. Apanhadas da árvore à 1 ou 2 dias e prontas a comer, em vez de apanhadas verdes e amadurecerem na fruteira, sem sabor e aroma. Que estranho não é? Haver determinada fruta, só naquela época ou determinado produto quando é altura dele. Qual será a melhor maneira de se viver? Esta que só me deixa comer mangas e pitangas lá para Dezembro ou como na Europa que tenho tudo, a qualquer altura, sem sabor e sem valor nutricional quase nenhum?

Um abraço a todos, beijinhos ao meu pai e à minha mãe e já agora, cumprimentos a todos os pais e mães e filhos com quem vou trocando vivências nesta terra.


Em Huambo

Gostei bastante da cordialidade que encontrei. As pessoas, de uma maneira geral, são bastante simpáticas e amistosas. Mesmo em certos locais da cidade mais degradados (muito porque a terra sofreu bastante com a guerra) as pessoas nas ruas e nos estabelecimentos, são bastante simpáticas.

O que adorei foi o cortejo de crianças que passam por mim todos os dias a caminha da escola. Todas felizes e a cantarolar. Todas com os seus cadernos e com a cadeirinha para se poderem sentar. Todas elas alegres. "Não conhecem outra realidade", disseram-me. Mas, será que é isso ou somos nós que já nem damos valor a certas coisas que já nos são tão garantidas que as tomamos por óbvias? Será que a nossa realidade é assim tão melhor na construção de carácter e fibra para vencer na vida? É óbvio que quero que a minha filha tenha uma boa escola e cadeiras para se sentar, mas será isso o mais importante? Julgo que não. E quando vejo uma menina feliz a caminho da escola com a cadeirinha, cada vez me convenço mais que damos importância demais a coisas que não a têm e descoramos outras que devíamos valorizar.

 
Ainda estou no Huambo. Irei apenas para Benguela no Domingo. Este vai ser o meu futuro automóvel. A condução aqui em Huambo (e penso que em Benguela é parecido), para quem não está habituado, é meio complicada (nada como em Luanda, contudo), as regras de transito são cumpridas QB. A prioridade é um conceito meio desconhecido, bem como o atravessar nas passadeiras. Existem muitas motas ( táxis aqui) e muitas pessoas a surgir de todos os lados. Tem de se conduzir com muita atenção. 


As fotos que aqui deixo nem mostram muito isso porque, o que me interessou mais foi a avenida em si. Mas tudo se consegue. Com um susto ou outro de vez em quando. Mesmo assim uma boa parte dos condutores (de automóveis) até são bastante cordiais e dão passagem. Enfim, comecei hoje a conduzir e ganharei calo como todos os outros.
Só espero não me habituar demais senão chego a Portugal e só faço asneiras.

Hoje vai ser a minha ultima noite no Huambo. Agradeço aqui a hospitalidade daqueles que conheci. Gostei muito de cá estar. Apesar de ser uma terra muito martirizada pela guerra, que não foi assim à tanto tempo, as pessoas na generalidade são bastante simpáticas. Conheci gente muito boa e voltarei cá com certeza. Amanha parto para Benguela. Aqui no Huambo, além do café e do tabaco a única coisa que comprei foi esta Samakaca (penso que se escreve assim). Ainda não sei bem o que farei com ela mas, logo se vê. Seria uma asneira não levar daqui uma das coisas que mais a simbolizam com o seu padrão e cores. Até amanhã em Benguela.

Fica aqui um instrumento interessante, utilizado para moer. Achei giro. Se alguém na aldeia se portar mal também dá para dar uma trolitada.





8 comentários:

  1. Pois é amigo, nós baseamo-nos na realidade em que vivemos e melhor conhecemos mas, de facto a maior parte da população mundial vive dessa forma e até muito pior! É surpreendente a alegria dessa gente não é?
    Abraço

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  2. Boa puto, faz boa viagem até Benguela! Abraço.

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  3. Vê lá ! não ganhes muitos vicios na condução! se não não ganhas para multas....

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  4. Calma Amigo aí com a condução.Aqui onde estou além dos sustos ainda temos que conduzir com o volante á direita e andar na faixa da esquerda.Agora imagina...

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  5. Pois é companheiro. Ainda à dias foste e afinal já estás de volta. Espero por ouvir as novidades que trazes aí da "banda".
    Abraço e até breve!

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